Antes de qualquer outra coisa, prudente responder o que é que Jack Nicholson está fazendo no título desse texto. Poderia ir direto ao ponto e ser, Randie Patrick – personagem icônico do astro que ilustra o título e o fantástico filme de Milos Forman – Um Estranho no Ninho. Contudo não chamaria a devida atenção do leitor. Esclarecida a questão, cumpre acrescentar que fiz uma lista dos discos ou músicas mais “nada a ver” de bandas que enveredaram em algum momento da carreira por caminhos totalmente estranhos às suas zonas de conforto. Afinal, nem todo mundo pode se dar ao luxo de proferir a frase que uma vez o saudoso Malcon Young (guitarrista base do ACDC) disse: “...sabe aqueles momentos que a gente passa durante a carreira e resolve dar uma guinada no estilo de música e fazemos cosias totalmente estranhas?” – pois é... a gente nunca teve!”
Bem, adiante elenco os discos, músicas ou momentos que acho mais deslocados e por vezes tentativas de soar diferente ou na “moda”, visando conquistar o mercado, podemos constatar diversos acertos e erros, mas focarei nos tropeços. Vamos lá, então.
1. Hot Space (1982) – Queen – Influenciados pelo estrondoso sucesso que a música Another one bite the dust obteve nas rádios na época do lançamento do excelente álbum antecessor The Game, cuja pegada funkeada e dançante composta pelo baixista da banda, Jonh Deacon, revelou ser uma dose acertada. Todavia, no Hot Space a coisa desandou a ponto de quase o disco inteiro ser recheado por músicas nesta toada, o que afastou por completo da linha de ação da banda consagrada. Distanciando-se do hard rock que os fizeram se tornar conhecidos. Apesar do acerto comercial de Under Pressure, com a luxuosíssima participação de David Bowie, o disco não empolgou. Trouxe músicas como Stayng Power, Back Chat e Body Language, causando “vertigens” de tanto balanço.
2. Van Halen III (1998) – Van Halen – Difícil até de comentar o desacerto deste álbum. Para começar do início, só a ousadia de batizá-lo de Van Halen III, remete a uma comparação cruel, tendo em vista que os outros dois Van Halens são considerados os dois melhores discos da banda. Diria que foi o cara errado na hora errada (Gary Cherone) a comandar os vocais da icônica banda. Escalado para a inglória missão de substituir o excelente Sammy Hagar, que já tinha tido a difícil tarefa de ser o frontman no lugar do lendário David Lee Roth (meu preferido), só que ao contrário de Cherone, cumpriu bem a tarefa. Pois é, o disco até que tem alguns momentos, mas o fiasco comercial tornou a aventura quase que despercebida pela maioria, exceto os fãs, que não perdoaram e seguramente tiveram a sensação que o ex-vocalista do Extreme bem que poderia emprestar seu papel no disco a Jack Nicholson como fonte de inspiração para o longa de Milos Forman. Pena que o disco ocorreu depois do filme. Seria um Deja Vu?
3. Carnival of Souls: The Final Sessions (1997) – Kiss – Que Gene Simons sempre esteve antenado com o que se passava no show business, isso é fato que ninguém duvida. Ele tentou nesse trabalho soar “meio” grunge, fenômeno que impregnou o ramo na época e que afundou o hard rock nos anos 90. Gene embarcou nessa e tratou logo de chamar Toby Wright para produzir o disco. Produtor que já havia trabalhado com Alice in Chains (influência é notória no disco) e Korn. Pois é, estar em dia com as tendências do mercado pode custar reputações. Foi nesse contexto que lançaram o trabalho e que na minha ótica, revelou ter sido um tremendo engodo, apesar da formação contar com Bruce Kulick e Eric Singer, além de Simons e Paul Stanley. Diria que dessa vez erraram feio neste quesito de banda suja e “moderna”. O disco transmite um interminável dilema: O que diabos estou fazendo aqui?!! Fracasso de vendas e de posicionamento nesse mundo estranho a banda. Mas há controvérsias. Há quem diga que foi o melhor disco de grunge já lançado...E vamos combinar: até que o vocal do Gene, soa verossímil ao gênero. Para quem quiser conferir dois momentos do disco interessantes, ouçam, Hate e Masters e Slave, nesta última quem surpreende é Paul Stanley. Rapaz... acho até que estou concordando que esse disco é o melhor do grunge.
4. Projeto Rides on Storm – Ian Astbury, Ray Manzarek e Robby Kriger (2002 a 2006) – Projeto iniciado com o propósito de reviver a lendária banda sessentista The Doors, com a participação do vocalista da banda The Cult, Ian Astbury e dois membros originais da icônica banda dos anos 60 (Ray Manzarek e Robby Krieger). Apesar de certo estardalhaço promocional no lançamento da tentativa de reviver a lenda, o “troço” revelou ser um verdadeiro desastre e meramente busca de grana a qualquer custo. John Densmore (baterista original do The Doors) foi totalmente contra e já antevia a “presepada”. Não transmitindo a menor empatia com o espírito da banda, logo, logo, desistiram da tacanha façanha. Eu lembro de ter visto um show em algum canal de TV, acho que era na MTV. Sério, juro que quando vi o vocalista do The Cult travestido de Jim Morrinson, com direito a uma peruca ridícula, me veio imediatamente um episódio da novela Feijão Maravilha, onde era anunciado o show de Sidney Magal e na realidade quem se apresentava era um impostor, salvo engano um personagem cômico de Stepan Nercesian, com prótese capilar e muito gelo seco. Tosquice pura! Corram desta experiência. Tem banda que não merece esse tipo de “homenagem”.
GODOY NICHOLSON
Cara eu vi esse projeto do The doors, se não tivesse envolvido toda essa questão midiática é essa presepadas citadas, que foge completamente da essência da banda, teria sido um momento agradável do rock