Em que pese esse filmaço não ser necessariamente acerca do universo do rock’n’roll e sim do blues e soul (não deixa de ser...), afinal o título original é The Blues Brothers, se trata, em minha opinião, de um raro acerto no mundo dos musicais. Eu particularmente detesto o gênero, mas esse filme é simplesmente sensacional. A cisma com os musicais reside naquelas cenas totalmente sem sentido que são retiradas de momentos do cotidiano. Exemplo do que falo consiste em pessoas jantando tranquilamente, quando de repente... Pulam de suas cadeiras e começam a cantar e dançar do nada. Bem, confesso não possuir ‘sensibilidade’ suficiente para embarcar nessa viagem, mas respeito quem admira e reconheço a importância para os amantes do cinema. Em blues brothers essas típicas cenas de musicais, são mais naturais.
O filme já começa acertando pela fenomenal escolha do elenco, Jonh Belushi e Dan Akroyd, nos papeis principais como Jake e Elwood – personagens retirados de um esquete fixo do programa de comédia americano Saturday Night Live, verdadeiro celeiro de comediantes no país. De lá já saíram: Eddie Murphy, Steve Martin, Chevy Chase, Martin Short, Mike Myers, Adam Sandler, Will Ferrel, Kristy Wig, Tina Fey e tantos outros.
O filme tem um enredo simples e funcional, a dupla está tentando reatar a banda, afinal Jake acabara de sair de uma temporada na prisão pelo crime de assalto à mão armada e logo em seguida à saída da cadeia – onde Elwood vai apanhar o irmão guiando um turbinado carro da polícia; vão ao orfanato que foram criados, para visitar a freira diretora e percebem que o estabelecimento encontra-se em vias de fechar por questões de grana o que motiva aos irmãos irem em busca do dinheiro para salvar a instituição.
A partir daí os estilosos irmãos que, usam terno preto, chapéu e óculos escuros, passam a se meter em várias encrencas, mas não sem antes da valiosa participação do elenco musical. Temos as aparições de inúmeros ícones da música negra americana: James Brown, na pele de um pastor cheio de swing, Ray Charles, Aretha Franklin, Cab Calloway e Jay Lee Hooker, além da competente banda que acompanha os caras de pau.
Os dois atores realmente cantavam no filme o que conferiu uma autenticidade musical muito boa (inclusive a banda dura até hoje). As apresentações foram muito convincentes, com umas coreografias de dança bem marcantes da dupla e minha cena predileta é a que eles vão tocar por acaso num bar country, cujo palco é protegido por uma tela das garrafadas que são atiradas. Por óbvio que eles tentam tocar um blues, mas são hostilizados pela platéia mediante o arremesso de inúmeros vasilhames de cervejas, quando resolvem tocar a única música country que conheciam – o tema de abertura do seriado Rawhide e aplacam a fúria da plateia – detalhe interessante é que a série revelou o astro Clint Eastwood no final dos anos 50. Outra cena memorável é a do restaurante, onde a dupla dá um show de cinismo e sarcasmo maravilhosos, produzindo o velho conflito de gerações e classes, bem humorado sem ser panfletário.
A direção é de John Landis, competente diretor de filmes de comédia – a exemplo dos excepcionais, Clube dos Cafajestes com Belushi e Trocando as Bolas, com Akroyd e Eddie Murphy, e alguns clipes de Michael Jackson, como Thriller.
O timing de comédia da dupla é super afinado, sendo a grande marca do filme, que apresenta várias cenas de perseguição de carros das mais legais de todos os tempos do cinema e ainda conta com as presenças pequenas, mas marcantes de John Candy e Carrie Fischer (a eterna Princesa Lea de Star Wars) – num hilário papel de uma mulher misteriosa que tenta de todas as maneiras matar Jake.
A trilha sonora é magistral, tem a música promocional cantada pelo próprio John Belushi, Gimme Some Lovin’; Shake a Tail Feather – Ray Charles; Every Body Needs Somedody to Love – cantado pela dupla; The Old Landmark – James Brown; Think – Aretha Franklin; O tema de Rawhide cantado por Akroyd; Minnie the Moocher – Cabe Calloway.
O filme é um marco da cultura pop americana e possui uma atmosfera de ode ao blues e soul poucas vezes vistos na telona (talvez em The Commitments tenham chegado próximo). Recomendo a quem não assistiu, diria até que é o único musical de que realmente gosto e a película transpira blues e soul do começo ao fim e já nasceu clássico. O entrosamento da dupla é muito coeso. Um triste registro é que Belushi morreu precocemente dois anos após o lançamento do filme em 1982, de overdose. Uma pena. Dan Akroyd apesar de ter tentado diversas vezes encontrar uma parceria à altura da química que tinha com John, jamais encontrou. Se bem que o cara pouco tempo depois fez Caça Fantasmas...
GODOY BLUES BROTHER
Assisti um dia desses de madrugada. Muitos feras no filme. A cena com Ray Charles é antológica.
Muito bom, vou até assistir novamente, vale a pena.